1ºBim. /Texto-aula: nº01
1. O que é filosofia?
não é possível aprender qualquer filosofia; só é possível aprender a filosofar.
Kant
Toda às vezes que é pronunciada a palavra filosofia em uma roda de bate-papo de amigos, logo percebemos que seu conceito, por vezes é mal entendido ou interpretado. Acredito que isso ocorre, por tal palavra (filosofia), ser carregada de mistérios, justamente por ser ela um conceito muito amplo e ao mesmo tempo abstrato.
Essa visão da filosofia certamente decorre dos diversos pensadores que por ela existiram e que com suas reflexões e críticas, geralmente polêmicas, foram a cada dia que passava ficando mais longe e isolados das sociedades que viviam. Indagações sobre o belo, gosto, amor, valor, moral, natureza, homem, foram apenas uns dos diversos exemplos que poderíamos citar como conceitos e temas mais recorrentes na história da sociedade e que os filósofos faziam questão de polemizar e, por vezes, destruir.
É evidente que tais inquietações custaram “caro” para muitos desses filósofos, sendo alguns punidos com a prisão ou sendo expulsos de seus países de origem e outros, como o próprio Sócrates, pagando um preço bem mais alto daquilo que questionava na sociedade Grega antiga, que foi com sua própria vida, que é para todos os filósofos o bem maior do homem.
Desta forma, podemos considerar que o primeiro passo para a elaboração de um pensamento filosófico é o questionamento. O grande objeto de estudo da filosofia é a própria capacidade do homem pensar, reflitir e questionar. É devido essa autonomia do pensamento humano que é possível mudarmos de posturas, posicionamentos sociais, culturais, políticos, entre outros e que nos permite mergulhar de modo profundo no conhecimento gerado no mundo.
Por conta desse “mergulho de ponta” que o homem e, em especial o filósofo, é capaz de dar em direção à essência da vida que é importante e necessário ser “radical” na sua forma de agir e pensar. Ser radical para o filósofo não é ser intransigente, ou seja, aquele que não sabe reconhecer erros ou mudar de posição quando necessário. Para a filosofia, ser radical é ter sistema, método, organização no modo de pensar, coerência, capacidade de argumentar, flexibilizar e de repensar criticamente posturas com intuito de compreender a partir de suas próprias experiências, a si mesmo e tudo que o cerca.
A grande originalidade da filosofia está na surpreendente aventura de idéias que nos identifica e nos diferencia em direção a outros seres. É por essa capacidade de aprofundamento da vida por meio da razão humana que identificamos a filosofia como fundamento dos conhecimentos específicos, como a matemática, história, física, geografia, biologia, entre outras, mas, nunca como um fundamento em si mesma. A filosofia portanto, deve ser utilizada como mais um instrumento para a ampliação e aquisição de novos conhecimentos e experiências de vida.
Filosofia e o filosofar
O sentido de filosofia ou de filosofar está diretamente relacionado com o pensamento ou com o ato de pensar. Porém, todas às vezes que tentamos definir filosofia, sempre partimos de dois princípios básicos: o primeiro é aquele relacionado às pessoas que dizemos estar com a “cabeça no mundo da lua”. Quando falamos que alguém está filosofando é porque vemos a pessoa pensando sobre o significado da vida humana. Contudo, por mais que aceitemos no senso comum esta definição de filosofar – relacionado ao pensamento do homem sobre os fatos da vida – o seu real significado é muito mais amplo.
O outro modo de tentar definir filosofia é dizer que ela é um modo do homem em saber viver com sabedoria. Todavia, este conceito está muito vinculado à sabedoria oriental onde as doutrinas estão vinculadas à religião. Apesar da filosofia discutir religião, não significa que a religião possa definir o que é filosofia.
Diferentemente do que foi dito anteriormente, o conceito de filosofia compreendida dentro dos estudos filosóficos propriamente ditos é a capacidade do homem em tentar dizer sobre a verdade daquilo que se pensa de modo racional sem se deixar levar por princípios religiosos, doutrinários ou ideológicos. Pensar filosoficamente é questionar o óbvio. Todavia, por mais que o filósofo seja aquele que discute e questiona o aparentemente inquestionável, que critica tudo e a todos, na verdade ele tenta com a filosofia despertar no homem a capacidade de identificar e conhecer melhor o que está sendo observado.
Na tradição filosófica dizemos sempre que todo filósofo é um porta-voz do povo e nunca um gênio perturbado que vive de modo isolado no mundo. O filósofo é aquele que é tomado de questionamento e de observações do contexto da realidade que vive. Como dizia o filósofo alemão Hegel: o filósofo não inventa a realidade, mas interpreta a realidade em que vive. O filósofo tenta a toda pergunta que se faz chegar à essência.
O filósofo é aquele que reflete, pensa e reflete novamente sobre o que foi pensado anteriormente. O pensador da filosofia é aquele que busca pensar o próprio pensamento, é aquele que toma ele próprio como objeto de suas reflexões. Talvez essa seja a grande virtude do homem, de conhecer e saber que conhece e de “dar conta” que também desconhece e que é necessário conhecer mais. O filósofo também alemão Theodor Adorno disse que só se põe a filosofar quem suporta a contradição, o conflito.
Desse modo, filosofar é se responsabilizar com as reflexões feitas frente ao outro. E, isso significa que ter atitude filosófica é mais do que dizer aquilo que você acha, é tentar estabelecer frente à questão discutida um saber lógico, rigoroso e que tenha sentido superando o senso comum.
Prof. de fil. Luciano Tavares Torres